sexta-feira, 29 de abril de 2011

O GAROTO NO CONVÉS, John Boyne


Retrocedi uma vez mais, e uma onda me atingiu com tanto ímpeto que foi como se tivesse me rasgado a pele do rosto e os olhos, arrancando-me um grito, um grito de tanta autopiedade e horror que continha os elementos dos muitos gritos que, havia anos e anos, eu trazia escondidos nos desvãos da alma. Gritei mais alto, escancarando a boca ao máximo, e, mesmo assim, não ouvi um só tom desse grito, tal era a força da ventania e da tempestade que nos arremessava de uma onda para outra, por cima da água, por baixo da água, à mercê do mar. Como o Todo-Poderoso nos abandonava assim, me indaguei. Eu teria chorado de frustração ante o rumo deplorável dos acontecimentos se em meu corpo ainda restasse força para tanto. Mas não restava. De modo que fiz a única coisa que podia fazer naquelas circunstâncias.
Tirei água da barca.
E tirei mais.
E tirei mais ainda.
E roguei a Deus que me deixasse vivo só mais uma noite.

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