terça-feira, 26 de abril de 2011

A criança em seu mundo

Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro e estudioso da educação, discorreu em seus estudos sobre a possibilidade de um futuro temeroso ao pensarmos na atual situação da criança em sociedade.

Como ele mesmo afirma, somos “a primeira geração que não cuida da próxima geração”, pois destruímos possibilidades e condições de resistência e insistimos no predomínio do egocentrismo.

O erro começa no olhar que a sociedade tem sobre a criança e seu papel. Não se pode caracterizar a criança numa determinada faixa etária, sendo que todos ainda temos uma parcela dessa criança em nós mesmos.

O grande risco está em olharmos para as crianças na perspectiva de um presente inacabado. Mantemos a constante ideia do Carpe Diem, como diz o próprio Cortella, como se devêssemos existir desconsiderando os limites. Como se a história terminasse agora. E aí nascem os grandes problemas. Viver o presente partindo de uma visão de existência evolucionista acreditando que dias melhores virão, empobrece o desenvolvimento social.

Embora a escola seja sempre citada como fonte de conhecimento do ser humano, é a família que tem o principal papel na formação da criança.

Muitos pais estão esquecendo que nem sempre o saber está nos livros. É claro que em grande parte está, mas existe mais do que isso. Há algum tempo na história da humanidade, principalmente nas nações desenvolvidas e atuantes do regime capitalista, vem se formando uma geração altamente independente. Os pais regram a vida dos filhos de uma forma que estes exercem todas as funções do seu cotidiano sem ao menos ter uma referência. A questão é: até que ponto isso é considerado bom?

Primeiramente, a afetividade foi deixada de lado. Aí a escola exerce o papel que a família esqueceu de exercer. O que acontece, é que há muitos casos que o professor é o único adulto que a criança vai ter contato direto, ao passo que os pais se tornaram apenas mantedores, financiadores ou agentes eletrônicos de afetividade, seja lá como queiram chamar.

A configuração física das casas também contribuiu para essa “ausência” de convivência. O avanço da tecnologia deu origem ao sujeito individualista. Cada quarto tem uma televisão, cada criança ou adolescente tem seu vídeo-game, seu computador, a comida pode ser esquentada no microondas rapidamente e por qualquer um da família. Nesse processo, cada um chega, esquenta sua comida, se tranca no quarto, assiste o que quer na TV, joga o vídeo-game de lutas sangrentas, conversa com mais de 100 amigos virtuais e acessa qualquer site de relacionamento que exponha uma fantasia de vida perfeita e bem estruturada.

Então pergunta-se: qual é o local de encontro das famílias? Se você respondeu carros e shoppings, acertou. No carro cada um com seu MP3 enfiado no ouvido. No shopping, as vitrines dialogam muito mais alto que a própria voz.

O contexto é claro e preocupante. Estamos vivendo uma sociedade fast. Tudo tem que ser rápido, fácil, prático... E quem ganha com isso é o MC Donald's e seus seguidores, que entenderam perfeitamente a ideia e assumiram liderança no quesito.

Outro aspecto importante no mundo das crianças é fazê-las entender que a perda faz parte da existência. As crianças, infelizmente, não são preparadas para a perda, como se criança tivesse que ser poupada desse sofrimento. E onde se constrói a consciência de que perder é parte do aprendizado e o ganho exige esforço e determinação?

O mundo está sendo marcado pela impaciência, visivelmente percebida pela filosofia do fast. No início do século XX, descobriu-se que a criança tinha um tempo de concentração de 15 minutos. Hoje é de 6 minutos. A impaciência produz efeitos no ser humano, impaciência com o outro. Quem diz que criança não gosta de escola está cometendo um erro gravíssimo. É uma grande armadilha pensar assim. As crianças gostam da escola, o que elas não gostam é do processo de prática da paciência das aulas.

É preciso retomar a prática do encontro. O encontro dos pais com seus filhos. Conversar, se olhar, se tocar. Algo foi construído nas relações humanas que contaminou nossas crianças.

Julgar que criança é o futuro da nação tornou-se apenas um clichê. Só é possível construir um futuro promissor, produzindo um presente com base em práticas que colaborem com o convívio, a paciência, a perda e o ganho. Não apenas relações virtuais e individuais que se dissolvem com um simples clique.


2 comentários:

Angie Chalas disse...

Hoje voltei a fazer uma das coisas que mais me dá prazer na vida... escrever! Foi em 2009 a última vez que publiquei um texto meu e agora estou de volta com meu blog... muito emocionada! É apenas uma sementinha, mas o fio condutor dos meus sonhos no futuro... quem sabe??!! Importante é tentar e investir no que se acredita! Estudei Jornalismo, iniciei o projeto Revista do Livro, mas acabei seguindo por outro caminho. Contudo, ainda existe o fascínio pelas letras, pela liberdade de expressar em palavras o que se constrói no pensamento!

Roberta disse...

Minha querida.. Posso te dizer que poder viver esse sonho junto com uma amiga tão especial como você, é mais que um presente..
A liberdade de expressar é uma das melhores coisas da vida, e hoje eu estou experimentando essa liberdade através de um projeto pessoal onde expresso tudo o que realmente sinto..
Sonhar é preciso amiga, pois só assim podemos acreditar e ter a certeza de que algum dia esse sonho se tornará realidade.