terça-feira, 26 de abril de 2011

Moro num país Tropicália

O Tropicalismo, que também é conhecido como Tropicália ou Movimento Tropicalista, foi um movimento cultural brasileiro de ruptura que influenciou muito o cenário da música e da cultura popular brasileira no final dos anos 60 e início da década de 70.

O movimento começou quando alguns artistas baianos se reuniram, e sob influência das correntes artísticas de vanguarda, radicalizaram e inovaram esteticamente a cultura brasileira. O meio musical foi o que mais vivenciou essas mudanças. A qualidade musical no país estava a algum tempo sendo questionada, principalmente após a onda da Bossa Nova. Até então, essa cultura estava envolvida por movimentos tradicionais e nacionalistas de esquerda.

Foi justamente para quebrar essas tendências que o grupo baiano se uniu. Entre as figuras mais expostas do Tropicalismo estavam Caetano Veloso e Gilberto Gil. Eles buscavam universalizar a linguagem musical da MPB, trazendo traços da cultura mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica.

No entanto, em sua época, o Tropicalismo passou longe de ser um sucesso comercial. Ao contrário, algumas obras amargaram bons anos como sinônimo de desperdício de dinheiro no mercado fonográfico brasileiro.

Mas Gil e Caetano eram personagens famosos entre o grande público por causa de suas aparições televisivas extravagantes, a habilidade em usar o marketing do choque e o trânsito entre um extremo da vanguarda e o outro, do pop juvenil.

Alguns estudiosos dizem que foi só em setembro de 1968, com Caetano e os Mutantes levando tomates da platéia durante o Festival Internacional da Canção, que o Tropicalismo ganhou cara pública.

O Tropicalismo, analisado por alto, foi uma mistura de ruídos de emoções pessoais, jogadas de marketing e uma vasta sucessão de mal-entendidos, o que não era pra menos. Os tropicalistas radicalizavam nas agressões. Em dezembro, Caetano apareceu na TV cantando a marchinha natalina “Boas Festas” com um revólver apontado para a cabeça. Pouco tempo depois, Caetano e outros artistas montaram um show na Boate Sucata, no Rio de Janeiro, em que o cenário era adornado pela frase “Seja marginal, seja herói”.

Toda essa “revolução” cultural acontecia justamente no período em que o Brasil entrava na ditadura. As provocações cessariam na manhã do dia 27 de dezembro de 1968, quando uma caminhonete com agentes da Polícia Federal levou Gil e Caetano de suas casas para um interrogatório. Ambos foram presos acusados por incitar a juventude à rebeldia, e depois se mudaram para Londres.

As ideias do movimento Tropicalista tiveram também certa relação com as propostas promovidas pelos artistas do movimento Antropofáfico (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti) durante as décadas de 1920 e 30. A semelhança ocorre no sentido de aceitar uma cultura exportada pelas culturas vigentes na Europa e nos Estados Unidos. Entretanto, o movimento antropofágico estava interessado em absorver uma cultura erudita, enquanto o Tropicalismo abraçava tanto o erudito, quanto o popular.

A Tropicália acontecia em meio a várias revoluções ao redor do mundo.

Em 1959, a Revolução Cubana transforma Fidel Castro e Che Guevara em heróis internacionais, o que atiça a pressão do bloco capitalista sobre os países do terceiro mundo. Ao mesmo tempo, começava a Guerra Fria. Essas revoluções históricas despertaram conflitos na América Latina.

No Brasil, o presidente João Goulart propunha uma série de reformas de base para atenuar a desigualdade social e as pressões políticas que vinha sofrendo dos movimentos de esquerda. Contra tais propostas – acusadas de comunistas – formou-se um movimento da direita política e de parte da sociedade, que preconizavam uma modernização conservadora. Com a participação do Congresso, das classes média e alta, essa facção venceu por meio do golpe militar de 31 de março. O Exército e seus aliados civis depuseram o presidente Jango e entregaram o poder aos militares. O golpe, apoiado pelos americanos, rompeu o já frágil jogo democrático brasileiro. A concentração de renda surgiu como forma de expansão capitalista. Castelo Branco se tornou o primeiro de uma série de generais-presidentes ditatoriais. Seu substituto, Costa e Silva, governou o país de 1967 a 1969, cada vez com mais poder.

Culturalmente, o país fervilhava. Até 1968, intelectuais e movimentos de esquerda podiam agir livremente, com pequenos problemas com a censura. A intensa produção ia das peças do Teatro Oficina aos grupos Opinião e Arena; das canções de protesto às músicas da Jovem Guarda, passando pelos filmes do Cinema Novo e pelas artes plásticas. Em todas as áreas, a política fazia-se presente, mantendo acesa no campo das artes uma polêmica que opunha experimentalismo e engajamento, participação e alienação. A partir de 1967, os antagonismos foram radicalizados. No campo da música, houve confrontos entre os artistas nacionalistas de esquerda e os vanguardistas do Tropicalismo. Estes se manifestaram contra o autoritarismo e a desigualdade social, porém propondo a internacionalização da cultura e uma nova expressão estética, não restrita ao discurso político. Para os tropicalistas, entender a cultura de massas era tão importante quanto entender as massas revolucionárias. Ainda no terreno político, 1968 foi o ano em que as tensões chegaram ao máximo no País. As greves operárias e as manifestações estudantis – com a conseqüente repressão policial – se intensificaram. As guerrilhas rural e urbana aumentaram suas ações. Com o crescimento da oposição, Costa e Silva, pressionado pela extrema direita, respondeu com o endurecimento político. Em 13 de dezembro, o Ato Institucional Nº 5 decretou o fim das liberdades civis e de expressão, sacramentando o arbítrio até 1984, quando o general João Figueiredo deixa a presidência do país.

Na época da ditadura, diversos artistas lançaram canções fazendo críticas. A música era um meio de se expressar. Entretanto, os artistas tropicalistas ressaltavam que não estavam interessados em promover, através de suas músicas, referências à problemática político-ideológica. Pelo contrário, diziam que a arte em questão já era por si só um instrumento revolucionário.

Apesar de todas as inquietações causadas pelo Tropicalismo, o movimento foi fundamental para colocar a cultura brasileira num patamar de reconhecimento, principalmente a música, aberta à novas possibilidades, trazendo certa autonomia à expressão artística.


Colaboração de: Larissa Teixeira de Castro

2 comentários:

Cleuza Pontes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberta disse...

Excelente texto para se pensar e refletir sobre o que vem a ser um país tropicália, repleto de diversas culturas e costumos. Esse país é o nosso BRASIL..