domingo, 29 de março de 2009

O que escreveu Miguel de Unamuno

"Pelo que me diz respeito, jamais de bom grado me entregarei, nem outorgarei a minha confiança a um condutor de povos que não esteja penetrado da idéia de que, ao conduzir um povo, conduz homens, homens de carne e osso, homens que nascem, sofrem e, ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins em si mesmos e não meios..."

Palavras do livro DO SENTIMENTO TRÁGICO DA VIDA

domingo, 22 de março de 2009

Indivíduo na sociedade, Sociedade no indivíduo

Você pode tirar um indivíduo da sociedade, mas não a sociedade do indivíduo. Essa afirmação traduz a crença de Durkheim. Para ele, as representações podem ser individuais ou coletivas. É como se fossemos divididos em dois, o ser individual, que pensa e age de acordo com nossas crenças pessoais; e o ser social. Esse último organiza suas crenças, hábitos, valores impostos pela sociedade. Tais crenças e valores não revelam uma suposta personalidade privada, mas o quanto há dos outros em nós.
Se destacarmos um único indivíduo da sociedade onde ele vive e o levarmos para outra sociedade ou mesmo para uma ilha deserta, ele levará um pouco da sociedade consigo, dentro de sua própria cabeça.
Os sentimentos privados tornam-se sociais quando são compartilhados. A partir dessa combinação, eles se transformam e tornam-se um fator social. Ao mesmo tempo, analisar um indivíduo separadamente não ajuda a entender a sociedade, porque um influencia o outro, um está naturalmente fincado no outro. Individualmente, cada pessoa carrega consigo apenas um fragmento da sociedade em que vive. A consciência coletiva existe através das consciências particulares. Cada uma não é nada sem a outra.
A consciência coletiva existe pela cooperação entre os indivíduos. Uma vida coletiva que sempre existiu e ainda se recria nos obrigando de certo modo a nos comportarmos de acordo com a "vontade da sociedade".

sexta-feira, 20 de março de 2009

Não tinha pensado nisso

Lendo o último artigo escrito para a revista Veja pelo economista Claudio de Moura Castro, Civilizações não são contagiosas, fiquei pensando na razão do Brasil ser um país tão heterôgeneo. Aliás, sempre questionei essa realidade, mas ainda não tinha tido uma explicação como a que Castro me deu com sua reflexão.
Sabemos que os europeus dominaram o mundo ao longo dos séculos. Países como Inglaterra, França, Alemanha e Holanda colonizaram e exploraram terras distantes, criando um novo ciclo europeu por cada canto de terra que passavam. Portugal, por exemplo, criou em Moçambique e Angola suas colônias de exploração. Os espanhois preferiram as Américas. A Inglaterra e França foram para a África; a Holanda para a Indonésia.
Além desse movimento demográfico, existiu também o modelo de povoamento. Diferente das colônias de exploração, que não conseguiram instituir uma economia desenvolvida como a da Europa, os novos conquistadores mostraram-se preparados para o domínio. Os colonos europeus migraram com toda a família e suas instituições, criando um tecido sociocultural do seu país de origem. Assim, os ingleses fundaram a Austrália, o Canadá, os Estados Unidos, a Nova Zelândia.
Desde então, essas novas sociedades conseguiram tanto sucesso quanto os países avançados da Europa. Por que o idioma mais falado no mundo é o inglês? Aí está o retrato. O desenvolvido gerando o desenvolvimento.
Isso tudo para explicar como acontece a transferência de culturas e civilizações de um continente para o outro. O que a "matriz" desses países possuía de bom, foi reproduzido na nova sociedade. Mas esse resultado só é possível por haver uma predominância dos seus cidadãos. A maioria impõe seus valores e a minoria adapta-se e adota os mesmos costumes. Minoria não impõe valores, expectativas e comportamentos. Como propõe Claudio de Moura Castro em seu artigo, civilizações não são contagiosas.
E como fica o Brasil nessa salada sociocultural? Tivemos a sorte de sermos colonizados por um dos países mais pobres da Europa.
Inglaterra, França e Alemanha não se interessaram por macacos. Talvez se a quinhentos e tantos anos atrás existisse o Pelé ou o Ronaldo... Os portugueses chegaram, misturaram-se com os índios, os africanos... Um tempo depois, dom João aportou em terras tupiniquins acompanhado por toda a sua elite portuguesa. Na verdade, uma sociedade européia inteira foi transplantada para o Brasil. Resultado: miscigenação sem igual em outras terras. Migrantes de mais de cinquenta nacionalidades integraram-se. Hoje, caminha lado a lado o avanço e o atraso; o sucesso e o pecado; o fracasso e a realização; a ambiguidade; o jeitinho brasileiro; o lugar brasileiro onde todo mundo entra e se ajeita. Se vai dar certo? Bom... sempre vai ter lugar pra mais um.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Mentir e Iludir - Análise (parte II)

Pelo conhecimento que se tem da vida de Noel Rosa, sabe-se que a composição "Pra que mentir?" foi motivada por uma de suas relações amorosas, talvez a mais marcante de toda a sua vida. Ceci, que Noel conheceu no cabaré Apollo, Rio de Janeiro, numa festa de São João, e de quem nunca mais se desligou, é a fonte de inspiração dessa canção de parceria com Vadico.
Na ocasião em que Noel compôs a música, Ceci dividia seu coração com ele e Mário Lago, o famoso compositor de "Saudades da Amélia". Apesar de Ceci não confessar para Noel o novo romance, ele já sabia de tudo, pois a conhecia pelo olhar, pelo tom de voz e lhe dizia com frequência: "Você ainda não aprendeu a mentir...".


Todo texto, de certa forma, dialoga com a sociedade, expondo suas crenças e valores assumidos como verdadeiros dentro da cultura em que o texto foi produzido.
Nos versos de Noel, a personagem masculina declara seu amor pela mulher, apesar de reconhecer-se traído. Ao mesmo tempo, a julga incapaz de mentir e de enganá-lo, porque ela não tem a comum malícia de toda mulher.
Na música de Caetano Veloso é uma voz feminina que dialoga com a canção de Noel. A personagem admite que, no território da relação amorosa, a mentira faz parte do comportamento feminino. Mas não exclui o homem desse jogo, ainda que ele o faça de forma dissimulada.

A mentira faz parte da relação. Seja intencional ou não, ela está presente e convive com ambas as partes, dissimulando, enganando, iludindo. A infidelidade é parte da realidade, então resta-nos aceitá-la. Se o homem perdoa uma traição, como fez Noel com sua Ceci, ele é considerado fraco. Essa tolerância por um representante da mentalidade masculina típica do nosso meio cultural é inadmissível, pois esse comportamento seria uma quebra do equilíbrio machista que o homem tanto preserva. Noel Rosa então, teve a humildade de assumir o seu amor mesmo com a traição da sua mulher. Ou porque, como já disse, a sociedade considera a mentira como parte do jogo amoroso, ou porque em nome do amor ele esteve disposto a perdoar para salvar o relacionamento.

Noel e Caetano montam uma imagem antagônica da mulher. A mulher de Noel não tem malícia, não tem maldade, finge um amor que não existe para não fazer o outro sofrer, mente talvez sem saber que está mentindo. A mulher de Caetano vira o jogo, trai tanto quanto o homem, aliás, trai justamente porque o homem também o faz. O homem mente sem necessidade de ocultar a infidelidade, sendo assim, a mulher não lhe deve satisafações. Nesse retrato da relação amorosa entre homem e mulher sabe-se que:
Um fala de iludir. O outro fala de mentir. Mas um mente com a ilusão. O outro ilude com a verdade.

domingo, 15 de março de 2009

Frase

Não tenho prateleiras para guardar insultos. Devolvo-os logo.
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Adaptação da frase escrita por Ciro Vieira da Cunha, em livro sobre Paula Nei: "Não tinha prateleiras para guardar insultos. Devolvia-os logo".

terça-feira, 10 de março de 2009

O que é felicidade?

Sou feliz
Não preciso do outro para ser feliz
Apesar do outro eu sou feliz

Sou feliz
Mas o que é felicidade?
Construção diária de cidadania

Sou feliz
E não busco a felicidade
Sou feliz porque vivo

Poema escrito durante a aula de Sociologia!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Sobre Pombas e Livros. O Começo

Estou esperando. Leva um tempo para achar o ponto de partida. O início do meu livro. Eu achava que tinha idéias, entusiasmo e motivação. Aí as idéias deixaram de ser grandes o bastante para causar qualquer tipo de interesse num suposto leitor. O entusiasmo cedeu às investidas do cansaço. A motivação ficou em silêncio por ter me esquecido e renegado minha identidade. Agora está claro que tudo faz parte de uma preparação e que o melhor a fazer é deixar o pensamento fluir. Não preciso me fixar em nada. Deixei que viesse e veio mesmo.

Ganhei de presente de aniversário um livro chamado "A Vida é Bela", de Dominique Glocheux. Não sei se o livro serviu de inspiração para o filme de mesmo nome. Deveria ter me informado mais. Eu sei, e isso está na contracapa, que o escritor francês depois de ficar 4 meses em coma, consequência de um acidente grave, mudou sua forma de ver o mundo e escreveu esse livro composto por 512 mensagens de incentivo pela vida. Uma ponte à descoberta do prazer nas coisas simples. O título original do livro é "La Vie en Rose". Se colorirmos nossa paisagem de rosa ira fazer a diferença. Vai fazer, futuro, porque ainda dá tempo. Não é papo furado de escritor de auto-ajuda. É fato.

Mensagem 356: Dê comida aos passarinhos. Ouça-os cantar. Acompanhe seu vôo pelo céu. Quando leio isso não me aguento de vontade de parar numa praça e dar comida aos pássaros. É uma cena perfeita.
Por falar nisso, lembrei que a um ano atrás fui almoçar com a minha mãe no MC Donald's. Estava um dia ensolarado e escolhi sentar do lado de fora. Ainda estávamos de luto pela morte da Tuca. Um luto abafado, disfarçado, que ninguém sabe, mas a gente sente. Justamente ali, veio uma pomba branca se aproximar dos nossos pés. Nos entreolhamos. Seria melhor espantar a pomba? Não. Conversei com ela, a convidei para uma prosa. Minha mãe notou que tinha uma linha amarrada na patinha direita e isso a impedia de voar. A compaixão pela pomba branca nos fez dividir nosso lanche com ela, conversar. E como é bom conversar com os animais. Minutos mais tarde havia um pombal ao nosso redor. Todas queriam seu lugar ao sol, porque alguém deixou de ser mais um naquele cotidiano programado de entra e sai da lanchonete e percebeu que, no asfalto pode surgir uma beleza. Porque ali eu quis enxergar meu mundo rosa e me fiz mais humana. Entre eu e a pomba não há distinção que se revele. Eu entendi sua necessidade de ser vista. Ela entendeu que o que mais me faltava era a sua presença.
O que o meu livro, La Vie en Rose e as pombas tem a ver? Encontrei o que faltava. O ponto de partida.

Rabiscos

Sobre o amor eu não tolero falsa identidade
Seria muita crueldade dizer te amo sem sentir
Sobre o amor a insegurança é fato, é certa
Em suas nuanças me revelo
Um pouco frágil pra falar e pra ouvir.
Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo /
sem pelo menos achar que ama
Quando a pessoa mente, a outra percebe
E se não percebe é porque não quer perceber.
Sobre o amor eu acredito nas mentiras e não mereço punição
Por aí se vê que esse negócio é complicado e de contornos imprecisos
Amor é um sentimento radical, não faz mal.
É duvidoso, ganha a fúria, causa tempestade
É como o vento, as vezes doce, claro, brando / mas pode ser arrasador.

domingo, 1 de março de 2009

Fome


"Sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas.
Comeria toda a terra. Beberia todo o mar..." Pablo Neruda.