sábado, 30 de abril de 2011

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O GAROTO NO CONVÉS, John Boyne


Retrocedi uma vez mais, e uma onda me atingiu com tanto ímpeto que foi como se tivesse me rasgado a pele do rosto e os olhos, arrancando-me um grito, um grito de tanta autopiedade e horror que continha os elementos dos muitos gritos que, havia anos e anos, eu trazia escondidos nos desvãos da alma. Gritei mais alto, escancarando a boca ao máximo, e, mesmo assim, não ouvi um só tom desse grito, tal era a força da ventania e da tempestade que nos arremessava de uma onda para outra, por cima da água, por baixo da água, à mercê do mar. Como o Todo-Poderoso nos abandonava assim, me indaguei. Eu teria chorado de frustração ante o rumo deplorável dos acontecimentos se em meu corpo ainda restasse força para tanto. Mas não restava. De modo que fiz a única coisa que podia fazer naquelas circunstâncias.
Tirei água da barca.
E tirei mais.
E tirei mais ainda.
E roguei a Deus que me deixasse vivo só mais uma noite.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A complexidade favorável de William Faulkner

Até meados dos anos 40, o escritor norte-americano William Faulkner não recebia muito prestígio do grande público. O principal motivo talvez fosse por fazer uso de uma narrativa complexa, profunda e repleta de emaranhados, características de uma prosa que atraía apenas parte da crítica refinada, embora isso não fizesse muita diferença na época. Seus romances, até mesmo os clássicos – O som e a fúria (1929), Enquanto agonizo (1930) e Luz de Agosto (1032) – eram considerados leituras “difíceis”.


Tentou a sorte em Hollywood em 1932, fracassando numa tentativa de firmar contrato com a MGM e em seguida com a Fox – seus projetos nunca foram filmados.

O que o escritor estadunidense não sabia é que em 1950 ganharia o Prêmio Nobel, sendo reconhecido como respeitável romancista nacional, regionalista e ainda “difícil” numa cultura modernista.

Os Estados Unidos sofria com a quebra de confiança no cenário ideológico do pós-guerra. Os mais puritanos acreditavam que a arte, principalmente a literária, estava apenas sendo preenchida por enganos e decepções. Daí surgiu o realismo norte-americano, em busca de aproximar a arte do movimento operário, do anti-fascismo e do comunismo, claro que antes das escabrosas descobertas de Stalin.

O que se buscava, na realidade, era representar de forma clara a crise econômica e política, através das linhas culturais disponíveis.

Artistas de 1929, avistaram a possibilidade de criar um novo tipo de ficção histórica, que traduzisse essa nova sociedade.

A queda da Bolsa trouxe de volta vários artistas americanos “exilados” na Europa, enquanto assuntos “americanos” começaram a ser discutidos como uma forma de recuperar a herança cultural local. Nesse desenrolar de ideias é que Faulkner encontra seu espaço, para agradar e confundir a história.

Até hoje estuda-se Faulkner considerando sua complexidade - a maneira de manipular o ponto de vista e sua estruturação temporal não-linear do enredo. O escritor não costumava seguir um enredo propriamente dito. O que ele fazia era colocar uma série de narradores contando partes de episódios, como acontece em O som e a fúria (1929).

Suas obras compõem um quebra-cabeça. Faz uso de uma descentralização narrativa que leva o leitor a descobrir aos poucos o que está acontecendo, isso quando descobre.

Até o século anterior, o romance europeu era caracterizado por uma narrativa especialmente dramática, centralizando um herói que cumpre suas ações individuais, vencendo as dificuldades da vida. Faulkner chega para quebrar esse heroísmo da burguesia norte-americana, e faz isso em suas obras.

O romance, que era a forma artística mais popular entre os burgueses ascendentes, torna-se um meio representativo de discussão do cotidiano. Se o herói era o centro da narrativa com suas questões individuais, começa a surgir preocupações sociais, políticas e econômicas que confiam à toda a burguesia a capacidade de resolver essas mazelas.

É aí que o resto da população se dá conta de que os interesses burgueses (obviamente) não são universais, e essa parcela da sociedade muda sua perspectiva de herói.

As duas Guerras Mundiais geram uma crise que prepara, de certa forma, a renovação das artes, com a chegada do modernismo. O desafio é introduzir novas perspectivas sobre o cenário social do momento.

Nos Estados Unidos, o progresso começava a se fazer presente. A maior nação mundial realizaria enfim, seus ideais democráticos de liberdade. A cultura de massa cria a centralidade da nação transformadora. Parecia não haver limites no campo criativo, com exceção do sul norte-americano, prejudicado pela Guerra Civil. Era complicado adotar uma modernização numa sociedade presa às tradições sulistas. Toda a estrutura social ainda era basicamente rural. Sendo assim, os ideais da industrialização, essenciais para a modernização, perdiam um pouco o sentido.

Artistas tanto do sul, quanto do norte (que sofria com a crise de 1929), travavam uma luta para criar uma alternativa para o capitalismo que ganhava cada vez mais espaço. A ideia era despertar um público preparado para apreciar uma arte política e reacionária. E assim surgiram obras com esse viés.

A tão idealizada perspectiva sulina começava a surgir e a se transformar, e esse se tornou o grande objetivo literário de Faulkner, em busca de uma nova linguagem que traduzisse essa migração do tradicional épico agrário, para a industrialização moderna, realista e urbana. A visão individual dava lugar à visão universal. Agora entendia-se a complexidade dos seus enredos. Nada mais era que uma representação da complexidade vivida em sociedade. Se suas narrativas eram consideradas “difíceis”, assim o era a vida capitalista.

A vida social de Faulkner estava, assim por dizer, relacionada ao papel do negro na sociedade moderna. Estava em alta a disputa entre brancos e negros. Até então, nenhum romancista havia se atrevido a tocar no assunto. E assim o fez Faulkner, mesmo que por um olhar racista, mesmo assim não se absteve do caso.

Na obra Enquanto Agonizo é possível observar alguns aspectos importantes: os personagens brancos são os que ganham voz numa narrativa fragmentada. Essa fragmentação revela a ação do homem em situações absurdas. Mais uma vez é importante retomar a relevância da narrativa fragmentada de Faulkner. Essa característica coloca o leitor como principal autor, pois ele é quem comanda o rumo das estórias, ao passo que desvenda os mistérios da complexidade narrada. Os modernistas valorizavam as diferenças, enquanto Faulkner prevalecia na perspectiva individual, do isolamento insuportável, que asfixia.

Em muitos de seus contos, porém, surge uma preocupação de dar voz aos personagens negros. É com Faulkner que um negro assume o papel central de um romance na literatura norte-americana. Esse negro é colocado como um primitivo, imune à ideologia modernista crescente. Fato que representa como o negro era posto em sociedade, sem direitos e valores que lhe dêem acesso ao novo tempo que avançava.

Faulkner é um romancista que aproxima a identidade histórica norte-americana do leitor. Em suas criações literárias, a todo momento encontra-se referências à sociedade estadunidense.

Se fossemos estabelecer um panorama teríamos a modernização forçada, a vida social fragmentada representada pela fragmentação da linguagem, o enclausuramento da identidade individual, a falta de circunstâncias que possibilite qualquer tipo de ação coletiva, e assim por diante. A literatura de Faulkner faz mais do que somente criar uma linha complexa de raciocínio. Ela amplia, principalmente, a compreensão de mundo.

Palavras sobre Clarice



Aqueles que me conhecem sabem que sou apaixonada por Clarice Lispector. Não se trata apenas de minha autora favorita, mas também de um reflexo, de um espelho onde noto traduzidos todos os sentimentos que eu não saberia descrever.

O que me encanta em Clarice é a forma como ela conseguiu canalizar suas emoções mais reprimidas; a forma que escolheu de ficar triste: transformando o que sentia em palavras. Muitos fizeram isso, mas nenhum conseguiu ser tão verdadeiro e tocar tanto meu coração. Embora fosse devotada ao seu mundo íntimo, Clarice nunca perdeu de vista o mundo exterior e as pessoas que o habitam. Em seu livro de crônicas “A descoberta do mundo”, onde é comentado um pouco de sua relação com os filhos, as empregadas, os amigos e os desconhecidos, tive a impressão de estar lendo seu próprio diário, tamanha a naturalidade e a maneira palpável com que ela descreve as relações humanas.

Além de ter vivido sempre na solidão –a solidão de quem não consegue um amor/ a de quem perde um amor/a de quem os filhos crescem e se vão – Clarice nunca foi compreendida; nem sua obra nem o seu ser.

Foi tão incompreendida que até os títulos de seus livros foram mal interpretados. Toda a tiragem de “Onde estivestes de noite” teve de ser recolhida quando ela percebeu que publicaram um ponto de interrogação após o título, mudando assim, o sentido que ela pretendia ao nomear a obra.

Ainda sobre os títulos, a personalidade de Clarice era encontrada até mesmo neles. “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” reflete o momento de indecisão da autora ao escolher o nome do romance. Ela própria declarou não ter conseguido se decidir por nenhum deles, então fez uma junção dos dois, não se importando com a falta de convencionalismo – sem dúvida, um dos aspectos que mais me agradam nela.

Clarice nunca se limitou, nunca tentou se enquadrar em nenhum padrão. Foi apenas ela mesma, com seus defeitos, suas mágoas, angústias e esperanças, e este é o motivo maior pelo qual conseguiu espaço na Literatura, que sem dúvida foi enriquecida com sua autenticidade e estilo.


Por Larissa Castro

terça-feira, 26 de abril de 2011

Moro num país Tropicália

O Tropicalismo, que também é conhecido como Tropicália ou Movimento Tropicalista, foi um movimento cultural brasileiro de ruptura que influenciou muito o cenário da música e da cultura popular brasileira no final dos anos 60 e início da década de 70.

O movimento começou quando alguns artistas baianos se reuniram, e sob influência das correntes artísticas de vanguarda, radicalizaram e inovaram esteticamente a cultura brasileira. O meio musical foi o que mais vivenciou essas mudanças. A qualidade musical no país estava a algum tempo sendo questionada, principalmente após a onda da Bossa Nova. Até então, essa cultura estava envolvida por movimentos tradicionais e nacionalistas de esquerda.

Foi justamente para quebrar essas tendências que o grupo baiano se uniu. Entre as figuras mais expostas do Tropicalismo estavam Caetano Veloso e Gilberto Gil. Eles buscavam universalizar a linguagem musical da MPB, trazendo traços da cultura mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica.

No entanto, em sua época, o Tropicalismo passou longe de ser um sucesso comercial. Ao contrário, algumas obras amargaram bons anos como sinônimo de desperdício de dinheiro no mercado fonográfico brasileiro.

Mas Gil e Caetano eram personagens famosos entre o grande público por causa de suas aparições televisivas extravagantes, a habilidade em usar o marketing do choque e o trânsito entre um extremo da vanguarda e o outro, do pop juvenil.

Alguns estudiosos dizem que foi só em setembro de 1968, com Caetano e os Mutantes levando tomates da platéia durante o Festival Internacional da Canção, que o Tropicalismo ganhou cara pública.

O Tropicalismo, analisado por alto, foi uma mistura de ruídos de emoções pessoais, jogadas de marketing e uma vasta sucessão de mal-entendidos, o que não era pra menos. Os tropicalistas radicalizavam nas agressões. Em dezembro, Caetano apareceu na TV cantando a marchinha natalina “Boas Festas” com um revólver apontado para a cabeça. Pouco tempo depois, Caetano e outros artistas montaram um show na Boate Sucata, no Rio de Janeiro, em que o cenário era adornado pela frase “Seja marginal, seja herói”.

Toda essa “revolução” cultural acontecia justamente no período em que o Brasil entrava na ditadura. As provocações cessariam na manhã do dia 27 de dezembro de 1968, quando uma caminhonete com agentes da Polícia Federal levou Gil e Caetano de suas casas para um interrogatório. Ambos foram presos acusados por incitar a juventude à rebeldia, e depois se mudaram para Londres.

As ideias do movimento Tropicalista tiveram também certa relação com as propostas promovidas pelos artistas do movimento Antropofáfico (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti) durante as décadas de 1920 e 30. A semelhança ocorre no sentido de aceitar uma cultura exportada pelas culturas vigentes na Europa e nos Estados Unidos. Entretanto, o movimento antropofágico estava interessado em absorver uma cultura erudita, enquanto o Tropicalismo abraçava tanto o erudito, quanto o popular.

A Tropicália acontecia em meio a várias revoluções ao redor do mundo.

Em 1959, a Revolução Cubana transforma Fidel Castro e Che Guevara em heróis internacionais, o que atiça a pressão do bloco capitalista sobre os países do terceiro mundo. Ao mesmo tempo, começava a Guerra Fria. Essas revoluções históricas despertaram conflitos na América Latina.

No Brasil, o presidente João Goulart propunha uma série de reformas de base para atenuar a desigualdade social e as pressões políticas que vinha sofrendo dos movimentos de esquerda. Contra tais propostas – acusadas de comunistas – formou-se um movimento da direita política e de parte da sociedade, que preconizavam uma modernização conservadora. Com a participação do Congresso, das classes média e alta, essa facção venceu por meio do golpe militar de 31 de março. O Exército e seus aliados civis depuseram o presidente Jango e entregaram o poder aos militares. O golpe, apoiado pelos americanos, rompeu o já frágil jogo democrático brasileiro. A concentração de renda surgiu como forma de expansão capitalista. Castelo Branco se tornou o primeiro de uma série de generais-presidentes ditatoriais. Seu substituto, Costa e Silva, governou o país de 1967 a 1969, cada vez com mais poder.

Culturalmente, o país fervilhava. Até 1968, intelectuais e movimentos de esquerda podiam agir livremente, com pequenos problemas com a censura. A intensa produção ia das peças do Teatro Oficina aos grupos Opinião e Arena; das canções de protesto às músicas da Jovem Guarda, passando pelos filmes do Cinema Novo e pelas artes plásticas. Em todas as áreas, a política fazia-se presente, mantendo acesa no campo das artes uma polêmica que opunha experimentalismo e engajamento, participação e alienação. A partir de 1967, os antagonismos foram radicalizados. No campo da música, houve confrontos entre os artistas nacionalistas de esquerda e os vanguardistas do Tropicalismo. Estes se manifestaram contra o autoritarismo e a desigualdade social, porém propondo a internacionalização da cultura e uma nova expressão estética, não restrita ao discurso político. Para os tropicalistas, entender a cultura de massas era tão importante quanto entender as massas revolucionárias. Ainda no terreno político, 1968 foi o ano em que as tensões chegaram ao máximo no País. As greves operárias e as manifestações estudantis – com a conseqüente repressão policial – se intensificaram. As guerrilhas rural e urbana aumentaram suas ações. Com o crescimento da oposição, Costa e Silva, pressionado pela extrema direita, respondeu com o endurecimento político. Em 13 de dezembro, o Ato Institucional Nº 5 decretou o fim das liberdades civis e de expressão, sacramentando o arbítrio até 1984, quando o general João Figueiredo deixa a presidência do país.

Na época da ditadura, diversos artistas lançaram canções fazendo críticas. A música era um meio de se expressar. Entretanto, os artistas tropicalistas ressaltavam que não estavam interessados em promover, através de suas músicas, referências à problemática político-ideológica. Pelo contrário, diziam que a arte em questão já era por si só um instrumento revolucionário.

Apesar de todas as inquietações causadas pelo Tropicalismo, o movimento foi fundamental para colocar a cultura brasileira num patamar de reconhecimento, principalmente a música, aberta à novas possibilidades, trazendo certa autonomia à expressão artística.


Colaboração de: Larissa Teixeira de Castro

A criança em seu mundo

Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro e estudioso da educação, discorreu em seus estudos sobre a possibilidade de um futuro temeroso ao pensarmos na atual situação da criança em sociedade.

Como ele mesmo afirma, somos “a primeira geração que não cuida da próxima geração”, pois destruímos possibilidades e condições de resistência e insistimos no predomínio do egocentrismo.

O erro começa no olhar que a sociedade tem sobre a criança e seu papel. Não se pode caracterizar a criança numa determinada faixa etária, sendo que todos ainda temos uma parcela dessa criança em nós mesmos.

O grande risco está em olharmos para as crianças na perspectiva de um presente inacabado. Mantemos a constante ideia do Carpe Diem, como diz o próprio Cortella, como se devêssemos existir desconsiderando os limites. Como se a história terminasse agora. E aí nascem os grandes problemas. Viver o presente partindo de uma visão de existência evolucionista acreditando que dias melhores virão, empobrece o desenvolvimento social.

Embora a escola seja sempre citada como fonte de conhecimento do ser humano, é a família que tem o principal papel na formação da criança.

Muitos pais estão esquecendo que nem sempre o saber está nos livros. É claro que em grande parte está, mas existe mais do que isso. Há algum tempo na história da humanidade, principalmente nas nações desenvolvidas e atuantes do regime capitalista, vem se formando uma geração altamente independente. Os pais regram a vida dos filhos de uma forma que estes exercem todas as funções do seu cotidiano sem ao menos ter uma referência. A questão é: até que ponto isso é considerado bom?

Primeiramente, a afetividade foi deixada de lado. Aí a escola exerce o papel que a família esqueceu de exercer. O que acontece, é que há muitos casos que o professor é o único adulto que a criança vai ter contato direto, ao passo que os pais se tornaram apenas mantedores, financiadores ou agentes eletrônicos de afetividade, seja lá como queiram chamar.

A configuração física das casas também contribuiu para essa “ausência” de convivência. O avanço da tecnologia deu origem ao sujeito individualista. Cada quarto tem uma televisão, cada criança ou adolescente tem seu vídeo-game, seu computador, a comida pode ser esquentada no microondas rapidamente e por qualquer um da família. Nesse processo, cada um chega, esquenta sua comida, se tranca no quarto, assiste o que quer na TV, joga o vídeo-game de lutas sangrentas, conversa com mais de 100 amigos virtuais e acessa qualquer site de relacionamento que exponha uma fantasia de vida perfeita e bem estruturada.

Então pergunta-se: qual é o local de encontro das famílias? Se você respondeu carros e shoppings, acertou. No carro cada um com seu MP3 enfiado no ouvido. No shopping, as vitrines dialogam muito mais alto que a própria voz.

O contexto é claro e preocupante. Estamos vivendo uma sociedade fast. Tudo tem que ser rápido, fácil, prático... E quem ganha com isso é o MC Donald's e seus seguidores, que entenderam perfeitamente a ideia e assumiram liderança no quesito.

Outro aspecto importante no mundo das crianças é fazê-las entender que a perda faz parte da existência. As crianças, infelizmente, não são preparadas para a perda, como se criança tivesse que ser poupada desse sofrimento. E onde se constrói a consciência de que perder é parte do aprendizado e o ganho exige esforço e determinação?

O mundo está sendo marcado pela impaciência, visivelmente percebida pela filosofia do fast. No início do século XX, descobriu-se que a criança tinha um tempo de concentração de 15 minutos. Hoje é de 6 minutos. A impaciência produz efeitos no ser humano, impaciência com o outro. Quem diz que criança não gosta de escola está cometendo um erro gravíssimo. É uma grande armadilha pensar assim. As crianças gostam da escola, o que elas não gostam é do processo de prática da paciência das aulas.

É preciso retomar a prática do encontro. O encontro dos pais com seus filhos. Conversar, se olhar, se tocar. Algo foi construído nas relações humanas que contaminou nossas crianças.

Julgar que criança é o futuro da nação tornou-se apenas um clichê. Só é possível construir um futuro promissor, produzindo um presente com base em práticas que colaborem com o convívio, a paciência, a perda e o ganho. Não apenas relações virtuais e individuais que se dissolvem com um simples clique.