segunda-feira, 2 de maio de 2011

Olhos Azuis - Jane Elliott

Discriminação, preconceito, desrespeito. Conhecemos muito bem todas essas palavras e sabemos o peso que elas trazem quando discutidas em um tema bastante popular nos dias de hoje dentro da sociedade, denominado de inclusão social.

Mas como seria a reação das pessoas que não sofrem nenhum tipo de discriminação dentro da sociedade se fizéssemos um experimento e invertêssemos os papéis? Foi exatamente isso que fez Jane Elliott, uma professora norte-americana e grande ativista do anti-racismo, em um workshop realizado nos EUA com um grupo de pessoas que se inscreveram para participar da palestra sem saber ao certo o que exatamente aconteceria, para descobrir como elas reagiriam a uma situação de discriminação.

Dentre as pessoas que participavam do workshop havia negros e brancos, onde sem dizer o que iria acontecer Jane selecionou 17 pessoas entre homens e mulheres todos brancos e de olhos azuis que ficariam trancados em uma pequena sala sem nenhuma ventilação e com apenas três cadeiras para se sentarem, em um período de 2 horas e 30 minutos.

Enquanto estavam trancados na sala, Jane estava observando o comportamento deles em outra sala com o restante das pessoas que foram participar do workshop. O objetivo era dar às pessoas brancas e de olhos azuis a oportunidade de saber como é não ser branco nos EUA, e fazê-los colocar os “sapatos” de uma pessoa negra por um dia. Para isso essas pessoas eram rotuladas com base apenas na cor dos olhos, utilizando todos os rótulos negativos usados contra mulheres, pessoas de cor, pessoas com deficiência física, gays, lésbicas e todas as outras que sejam diferentes fisicamente.

O resultado desse experimento foi surpreendente e ficou claro que quanto mais aceitamos os rótulos que a sociedade nos coloca, mais nos sentimos incapazes e inferiores.

É inexplicável o fato de sermos tão omissos a determinadas situações. Por que não conseguimos nos impor e agir sobre todas as ações que consideramos erradas e inadequadas? Por que temos medo de nos envolver no que diz respeito à dor do outro?

Para grande parte da população que não sofre com o preconceito e que está sempre incluída em um grupo é muito mais fácil não se envolver e apenas dizer: “Eu não fiz isso, e, portanto não sou o responsável”. Isso é um fator decisivo para a manutenção de um mal chamado de preconceito, pois não fazer nada é apenas dar aprovação para os que praticam esse ato.

Vivemos em uma sociedade em que muitas vezes muitas pessoas não se preocupam com o bem estar do outro, mas com as conseqüências que um ato discriminatório possa ter. Vou ajudar aquela pessoa com dificuldade não porque eu quero incluí-la na sociedade, mas sim porque se eu fizer algo que possa causar algum dano, ela pode me processar.

A sociedade pode muitas vezes manipular as pessoas em muitos aspectos, sejam eles prejudiciais ou não ao outro. E por esse motivo o individuo que não se enquadra aos padrões dessa sociedade, sociedade em que você precisa ter certas condições para fazer parte de um grupo, aprende a aceitar para ser aceito submetendo-se a opressão. Tudo isso porque infelizmente esse indivíduo tem a crença de que ao aceitar, é possível se sentir mais a vontade livre da forte pressão diária. E infelizmente essa aceitação acontece, pois a humilhação do outro não incomoda a sociedade, se incomodasse, essa humilhação teria fim.

O experimento realizado por Jane é muito verdadeiro, pois se pegarmos qualquer ser humano que não tenha nenhuma limitação e passarmos a rotulá-lo como alguém incapaz ou inferior, em poucos minutos ele vai se tornar alguém extremamente desconfiado sobre esse rótulo e vai se sentir ameaçado. É justamente isso que vemos presente a todo o momento na sociedade, pessoas sendo rotuladas e sem forças para lutar contra isso porque infelizmente elas não têm um grupo ao seu redor que possa acolhê-las e brigar por uma causa nobre denominada inclusão.

Infelizmente nós vivemos em uma sociedade onde é mais fácil se omitir do problema do outro, do que ajudá-lo a enfrentar. Não lutamos, não brigamos pela causa do outro porque temos medo de sermos excluídos. Mas e quando essa causa é nossa, será que o outro irá nos ajudar?

Cada vez que ficamos em silêncio e nos omitimos, damos força ao que chamamos de preconceito, pois o silêncio dá força aos opressores.

Fica muito claro que todos nós temos uma lição a ser aprendida: O que nos faz iguais é que somos, todos, diferentes uns dos outros. De onde vem o medo de ser diferente? Por quê tanto silêncio?


OLHOS AZUIS (JANE ELLIOTT)


Quando vieram contra os negros, eu não era negro e não fiz nada.
Quando vieram contra os favelados, eu não era favelado, não fiz nada.
Quando vieram contra os homossexuais, eu não era homossexual e não fiz nada.
Quando vieram contra as mulheres, eu não era mulher e não fiz nada.
Quando vieram contra os desdentados, eu não era desdentado e não fiz nada.
Quando vieram contra os analfabetos, eu não era analfabeto, não fiz nada.
Quando vieram contra os pobres, eu não era pobre e não fiz nada.
Quando vieram contra os cegos, eu não era cego, não fiz nada.
Quando vieram contra os aleijados, eu não era aleijado e não fiz nada.
Quando vieram contra os outros, o assunto não me dizia respeito e não fiz nada.
Quando vieram contra mim, ninguém me defendeu.
Quem não é vitima de discriminação e abuso sempre pensará que o sofrimento do outro não é grande coisa, que é exagero.
Alguns acham que discriminação nem existe, que não existe discriminação contra negros, contra mulheres, contra homossexuais, aleijados, favelados, pobres.
Assim seguimos e fazemos todos os dias, desprezamos ou diminuímos o sofrimento alheio.Não dando atenção à dor do outro nos condenamos a sofrermos em silêncio, a sofrermos sozinhos a nossa própria dor. O preconceito só existe porque o silêncio favorece os opressores. Quem, acovardado, se omite, concorda com o abuso. Quem concorda com o abuso, será abusado ouvindo o silêncio cúmplice dos outros. E tudo parece muito normal, tão normal quanto sofrido e solitário.

Por Roberta Pontes

Um comentário:

Roberta disse...

Como posso querer que o outro me ajude, se quando eu o vi sendo humilhado pela sociedade eu apenas cruzei os braços e disse: Isso não me diz respeito, não é minha responsabilidade?
É preciso aprender a lidar com as diferenças, é preciso saber respeitar os limites do outro. Se para o outro uma ação simples pode ser difícil, não o julgue. Ao invés de julgar, mostre que ele jamais estará sozinho, e que ele sempre poderá contar com você.